Projeções para a queda do PIB deste ano saíram de 9% para menos de 5%; avanços de setores fundamentais geram clima de otimismo, porém desaceleração do ritmo de alta expõe desafios para 2021
Se antes economistas previam que a pandemia do novo coronavírus iria afundar a economia brasileira para níveis próximos dos 9%, a divulgação nesta sexta-feira, 13, do avanço de 9,47% da prévia do Produto Interno Bruto (PIB) no trimestre encerrado em setembro sinaliza que o tombo será muito mais suave do que o esperado. Em setembro, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) registrou alta de 1,29%, a quinta alta consecutiva. O otimismo é impulsionado pelo crescimento seguido de setores fundamentais da economia. A alta 0,6% no varejo em setembro zerou as perdas causadas pela pandemia, enquanto o crescimento recorde de 3,6% em agosto jogou o segmento para o mesmo patamar do pré-crise. Já a arrancada de 2,6% da indústria eliminou os prejuízos somados entre março e abril. O setor de serviços — o mais impactado pelas medidas de isolamento social —, ainda está bastante fragilizado, mas cresceu 1,8% em setembro, o quarto mês seguido em curva ascendente. Todos esses levantamentos setoriais foram feitos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Porém, a despeito dos índices otimista, os avanços recentes estão em ritmo menor dos registrados nos meses anteriores, indicando a desaceleração do crescimento. Somado isso ao aumento do desemprego, fim do auxílio emergencial e a avaria nos cofres públicos, cria-se um cenário de desafios para a retomada sustentável da economia no próximo ano.
O Boletim Focus, relatório publicado toda semana pelo Banco Central com a expectativa do mercado financeiro sobre os rumos da economia, chegou a apontar queda de 6,5% do PIB – a média divulgada em junho, no ápice das incertezas geradas pela pandemia – e se retraiu para 4,8% na versão divulgada na segunda-feira. A revisão do Fundo Monetário Internacional (FMI) foi ainda mais radial: saiu de 9,1%, também em junho, para 5,8% no mês passado. Para Marcela Rocha, economista-chefe da Claritas Investimentos, os dados do IBC-Br sinalizam que as perdas causadas pela pandemia no primeiro semestre — quando o PIB retraiu em níveis históricos e o Brasil entrou em recessão —, foram recuperadas nos últimos meses. “O resultado consolida a perspectiva de que a economia se recuperou rapidamente. Além disso, o IBC-Br reforça que o tombo na economia em 2020 talvez não seja tão forte. O próprio consenso do mercado caiu bastante, e hoje se fala em 4,8%. Com os resultados do terceiro trimestre, acreditamos que pode ser ainda menor, mais próximo dos 4,5%”, afirma. No momento mais pessimista, a instituição financeira estimou recuo de 5,5%.
A capacidade da economia brasileira em reverter as quedas históricas em sinais de retomada surpreendeu os analistas do mercado. Em outubro, a Confederação Nacional da Industria (CNI) informou que esperava alta de 9% no PIB do terceiro trimestre, e revisou o resultado do ano para queda de 4,2%. O bom humor foi acompanhado por outras entidades. A XP Investimentos, que já chegou a estimar tombo de 6% na soma das riquezas produzidas pelo país em 2020, alterou a previsão de baixa para 4,6%. Segundo Lisandra Barbero, economista do grupo, os resultados dos últimos indicadores reforçam a tendência de uma queda mais suave que a esperada para 2020, e geram um princípio de otimismo ao próximo ano, caso haja um imunizante eficiente e largamente distribuído. “Para os serviços será positivo, já que as pessoas ficarão mais confortáveis para sair de casa. A indústria ainda aproveitará os juros baixos e os estímulos deste ano, enquanto o comércio aproveitará a espécie de poupança que as pessoas que não receberam o auxílio fizeram ao longo deste ano”, elenca.
Se os números em azul registrados em setembro criam euforia de recuperação, a diminuição do ritmo na comparação aos outros meses trazem os ânimos de volta à realidade do tamanho do desafio para a economia. Após uma série de números negativos, o varejo engatou alta de 12,7% em maio, 8,8% em junho, 4,7% em julho, 3,1% em agosto, e chegou em setembro com alta de 0,6%. O setor de serviços acompanha linha semelhante: alta de 5,2% em junho, 2,6% em julho, 2,19% em agosto e 1,8% em setembro. O IBC-Br é mais volátil, mas, após recuar 9,7% em abril, chegou ao pico de 4,9% em maio, até desacelerar para 1,3% em setembro, maior, porém, do que o 1,1% de agosto. A perda de gás na recuperação é agravada pelo aumento do desemprego no próximo ano, acima do atual recorde de 14,4%, além do risco de disparada da inflação e fim dos programas de estímulo patrocinados pelo governo federal.
A desaceleração do ritmo de crescimento do comércio pode ser explicada pela mudança de foco da população, que comprou mais bens durante a pandemia e começou a gastar mais com serviços após o relaxamento das medidas de isolamento social. Mesmo assim, os outros fatores acendem alerta para o próximo ano. “O crescimento de setembro mostra que já há uma desaceleração, e isso vai refletir em número também menor para o quarto trimestre do ano. E um cenário sem auxílio, maior desemprego e incertezas nas políticas fiscais pode limitar o crescimento para 2021”, afirma Marcela, da Claritas.
Fonte: Jovem Pan