Alta de 0,55% foi puxada por itens fora dos núcleos de inflação
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) subiu 0,55% em janeiro, após alta de 0,52% em dezembro de 2022, conforme divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado ficou acima da expectativa do mercado coletada pelo Valor Data, que era de 0,52%. Contudo, economistas pontuaram que a composição do indicador foi positiva.
“Uma parte importante é que, quando olhamos as métricas de inflação subjacente, tanto na parte de bens quanto de serviços, vieram ligeiramente abaixo do que esperávamos. Então, apesar da surpresa altista, ela ficou centralizada em itens que não são núcleos de inflação, que é onde o Banco Central é mais sensível. A desinflação continua aparecendo”, observou a economista do Itaú Unibanco Julia Passabom.
A equipe econômica do banco Original destacou que o resultado acima do que o mercado esperava é explicado pela surpresa com os reajustes no setor de comunicação, que anotou inflação de 2,36%, além de uma desinflação mais lenta da alimentação no domicílio e uma herança da recomposição dos preços de higiene pessoal (1,88%) e planos de saúde (1,21%).
“Ainda assim, vemos o headline com bons olhos, já que a surpresa com passagem aérea e combos de TV por assinatura tende a se dissipar nos próximos meses. A inflação de serviços gerais segue cedendo e os núcleos também mantêm um ritmo bem comportado no tempo”, escreveram os economistas do Original.

De acordo com o IBGE, foram notadas acelerações ou fim de deflação de preços em Artigos de Residência (de -0,46% para 0,38%); Despesas Pessoais (de 0,39% para 0,57%); Educação (zero para 0,36%); Saúde e Cuidados Pessoais (de 0,40% para 1,10%); e Comunicação (de 0,18% para 2,36%).
Por outro lado, foram notadas desacelerações de preços em Alimentação e Bebidas (de 0,69% para 0,55%); Habitação (de 0,40% para 0,17%); Vestuário (de 1,16% para 0,42%); Transportes (de 0,85% para 0,17%).
No caso dos alimentos, Mauricio Nakahodo, economista do banco MUFG, destaca que houve desaceleração mesmo em meio ao período de chuvas, que normalmente pressiona os preços de produtos naturais.
Para o economista-chefe da Parcitas, Vitor Martello, os componentes cíclicos da inflação, como serviços subjacentes e bens industriais, estão apresentando uma dinâmica benigna. “Há sinais claros de desinflação quando olhamos a difusão deles e a queda da inflação trimestral ajustada pela sazonalidade. São itens que estão girando, alguns deles, abaixo da banda inferior da meta de inflação. Isso chama a atenção” disse.
A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, observou que o IPCA-15 ficou em 5,87% em 12 meses até janeiro, ante 5,90% até dezembro de 2022. “A tendência é que respiremos mais aliviados neste ano. Não esperamos deflação, mas trabalhamos com cenário de altas bem mais moderadas.”
No fechamento de janeiro ela espera alta de 0,62%. “Subiu um pouco por causa de itens que repetem todos os meses, como emplacamento e licenciamento de veículos [ligados ao IPVA] e tem essa surpresa de passagem aérea que precisa ser incorporada.” Passagem aérea caiu apenas 0,22%, menos do que a maioria dos economistas esperava.
Já emplacamento e licenciamento de veículos teve alta de 1,61%. “IPVA mais alto e repete esta variação o ano todo. Automaticamente a projeção do ano sobe 26 pontos-base”, projeta a estrategista de inflação da Warren Renascença, Andréa Angelo.
A revisão das projeções para o fim do ano devido à essa surpresa não é consenso entre economistas, que preveem inflação de 5% a 6% em 2023, acima da meta de 3,25%.