Em pouco mais de um ano de atuação, grupo especializado da PF em Campinas já prendeu 115 pessoas e recuperou R$ 5 milhões em veículos
Apontada como “epicentro” do roubo de cargas e caminhões em São Paulo, Campinas (SP) abriga, desde o final de 2021, um grupo especializado da Polícia Federal para combater esse tipo de crime. No período, o serviço de inteligência e investigação prendeu 115 pessoas e recuperou R$ 5 milhões em veículos.
Chefe da delegacia da PF em Campinas, o delegado Edson Geraldo de Souza explica que o grupo trabalha em conjunto com todas as polícias do país, por isso a necessidade dos registros de roubos, furtos ou tentativas, com o máximo de informações e imagens, para que esses dados abasteçam os investigadores.
O grupo conta até com informações estratégicas das transportadoras para chegar às quadrilhas especializadas nesses crimes, e no período em atuação já verificou que eles se especializaram na subtração, sem se preocupar com o desmonte, por exemplo.
“Na última operação (Insídia), percebemos que eles concentram todos os esforços na subtração, e outros grupos que recebiam é que desmontavam os veículos”, conta.
Segundo Edson, a aúdicia dos criminosos ocorre mesmo diante do uso de rastreadores e outros equipamentos tecnológicos pelas empresas de transporte e caminhoneiros.
Interestadualidade
A Polícia Federal destaca que a região Sudeste, com destaque para os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Sul de Minas concentram a maior parcela dos casos, e que ao fazer um retrato de São Paulo, Campinas aparece como epicentro das ocorrências.
E apesar da metrópole concentrar os roubos e furtos por conta da malha rodoviária, o aeroporto de Viracopos e a concentração de centros logísticos, esses veículos e cargas subtraídos nem sempre ficam por aqui. Na verdade, são mandados para diversos cantos do Brasil.
“A principal razão da Polícia Federal atuar é a interestadualidade e a necessidade repressão uniforme. Tem mercadorias subtraídas na região de Campinas que foram encontradas na Bahia, veículos localizados no Sul de Minas”, explica Souza.
Operação Insídia
No início de maio, uma operação da Polícia Federal, Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e Polícia Militar cumpriu 12 mandados de prisão contra suspeitos de participação nos roubos e furtos de caminhões na região – quatro dos investigados já estavam encarcerados por outros crimes.
Segundo a PF, a quadrilha alvo da operação era responsável por dezenas de crimes, com provas de pelo menos 20 deles.
De acordo com o delegado, o grupo não tinha receptadores específicos porque o objetivo era passar o caminhão inteiro para frente o mais rápido possível. Por isso, o veículo era oferecido em grupos de Whatsapp e vendido para quem pagasse o maior valor.
“A especialidade era retirar o caminhão de circulação e repassar o veículo. Como o foco era só esse, eles furtavam caminhões todos os dias. A gente teve caso de um caminhão por dia, e em alguns momentos foram até seis caminhões por dia.”, pontuou Souza.
Ainda segundo a Polícia Federal, depois do roubo ou furto, os criminosos utilizavam uma técnica conhecida no crime de roubo de veículos como esfriamento. Como caminhões normalmente têm rastreador, eles deixavam a carreta em algum lugar, esperavam para ver se não ia aparecer ninguém para recuperar e só depois pegavam de novo.
No entanto, as polícias Federal e Militar não faziam a interceptação do caminhão de propósito, com o objetivo de identificar os integrantes da quadrilha. Além disso, os investigados também trocavam as placas das carretas, no meio da rua, e adulteravam o chassi, antes de vendê-las. Eles também tinham preferência por um modelo específico, pela facilidade de venda.
“Eles usavam roupas de assistência mecânicas ou de órgãos de placas mesmo para disfarçar a troca dessas placas no meio da rua e só depois fazer a venda desses caminhões. A chance de um receptador comprar um caminhão sem saber que é roubado é zero”, completou o delegado.
O próximos passo da investigação agora é, além de encontrar os responsáveis pela adulteração da placa, identificar outros integrantes do grupo criminoso e os receptadores. “Não havia uma formação sólida. Eles levantavam quem estava disponível para trabalhar no dia e colocavam a pessoa para furtar caminhões. A principal dificuldade é delimitar quem são os participantes realmente”, explicou.
Fonte: g1 Campinas e Região