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Emissão de carbono nos transportes deve cair em dez anos, projeta EPE

Resultados podem ajudar na adoção de eventuais planos para intensificar políticas públicas

A intensidade de emissões de carbono no setor de transportes em dez anos deve ser 5,6% menor do que a verificada atualmente, de acordo com estudo realizado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e divulgado recentemente. Os resultados podem ajudar na adoção de eventuais planos para intensificação das políticas públicas, especialmente diante do fato de que o governo Luiz Inácio Lula da Silva tem sinalizado pretensão de abraçar mais fortemente ações de transição energética.

Em 2019, ponto de partida da análise, a EPE verificou intensidade de 70,89 gCO2eq/MJ (unidade de medida específica da intensidade de carbono), enquanto em 2032, a previsão é de um indicador de 66,90 gCO2eq/MJ.

Segundo a consultora técnica da EPE Rachel Henriques, iniciativas como o Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) e o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel influenciaram na redução das emissões de gases de efeito estufa, impulsionando o maior uso de biocombustíveis. Algumas dessas medidas foram estabelecidas nos últimos anos para o setor de transportes, como o próprio RenovaBio e o do biodiesel, bem como o Programa Nacional de Etiquetagem Veicular e o Rota 2030. Outras são mais antigas, como a adição de etanol na gasolina e o Pró-Álcool, iniciado na década de 1970.

Saídas como a fixação de percentuais mandatórios de adição de biocombustíveis a fósseis, o uso de políticas tarifárias e tributárias específicas e evolução tecnológica são caminhos que possibilitam o maior uso de renováveis nos transportes. Neste ano, a tecnologia de motores “flex fuel”, que permite abastecimento de veículos leves com gasolina ou etanol ou os dois combustíveis simultaneamente, completa 20 anos de adoção em escala industrial pela indústria automotiva.

“São várias frentes que precisam andar simultaneamente para que essa realidade ocorra, com influência cada vez maior”, disse Henriques. O estudo tem como referência o conceito “do poço à roda”, ou seja, o estudo avalia as emissões do ciclo de vida dos combustíveis, compreendendo o somatório das etapas “poço-ao-tanque” e “tanque-à-roda”. A elaboração foi feita pela EPE a convite da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva, por indicação do Ministério de Minas e Energia (MME), ainda em 2022.

Nesse campo, o maior uso dos combustíveis renováveis tende a reduzir a intensidade de carbono, seja o consumo puro, seja misturado com fósseis. A gasolina A, sem adição de etanol, terá intensidade de emissão de carbono estável ao longo dos anos, sem variação. O mesmo comportamento se repete no caso do diesel A. Quando há adição de, respectivamente, 27% de etanol e de biodiesel – nas taxas previstas por lei -, verifica-se uma queda na intensidade de carbono, ainda que discreta.

Para a avaliação das emissões, o estudo considerou o horizonte até 2032 e os combustíveis que podem ser utilizados no transporte rodoviário: gasolina tipo C (que é a mistura na refinaria da gasolina com etanol anidro, sem adição de água), etanol hidratado (vendido nas bombas), diesel tipo B (que é a mistura do óleo diesel com o biodiesel, nas refinarias), e gás natural veicular (GNV). O estudo também analisa novos combustíveis, como o biometano e a eletricidade.

A EPE avalia que pode haver nos próximos anos melhoria no cenário de intensidade de emissões, com reduções associadas a fatores como aos processos de extração e refino de petróleo, avanços na produção de biocombustíveis, com maior aproveitamento de resíduos e aumento da participação de biocombustíveis na matriz energética. A EPE também vê como fator de menor emissão de CO2 a entrada do biometano na matriz de transportes, bem como do hidrogênio verde e de outros combustíveis renováveis para motores de ciclo diesel.

Henriques salientou que para ônibus e caminhões, que majoritariamente usam óleo diesel, existem formas de aumentar a eficiência e reduzir a intensidade de carbono, como programas de renovação de frotas. Em São Paulo, exemplificou, a SPTrans (estatal responsável pela gestão do transporte público da capital paulista) estabeleceu regra que estabelece a obrigatoriedade de compra de ônibus elétricos.

Mariana Damião, analista de pesquisa energética da EPE, vê também espaços para melhoria na rastreabilidade das cadeias de grãos para produção de biodiesel, como caminho para uma redução ainda maior das emissões. “O próximo passo também é o de realmente melhorar, diversificar mais as rotas [tecnológicas]”, acrescentou Damião.

No Acordo de Paris, firmado em 2015, o Brasil comprometeu-se a reduzir emissões de gases de efeito estufa em 37% em 2025 e em 43% em 2030. Já em 2021, pacto firmado na COP26 ampliou a meta para 2030, para 50% e estabeleceu como alvo a neutralidade de carbono em 2050.

Fonte: Valor Econômico

 

 

 

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