Lideranças empresariais não creem em ruptura do tradicional parceiro comercial, sobretudo por conta da escolha dos ministros e assessores
A sazonalidade e as intercorrências da balança comercial acabam por, eventualmente, modificar o retrato dessa relação. Mas, historicamente, a Argentina é o segundo maior parceiro da região de Campinas.
De acordo com dados do Ciesp-Campinas, divulgados na semana passada, os principais destinos das exportações da indústria regional em outubro de 2023 foram, pela ordem, Estados Unidos (US$ 61,9 milhões), Argentina (US$ 46,4 milhões) e México (US$ 22,1 milhões).
Os principais países de origem das importações para a região foram no mês de outubro a China (US$ 248,02 milhões), Estados Unidos (US$ 151,67 milhões e Índia (US$ 72,9 milhões). A Argentina também exporta para a região, como produtos do agronegócio (frutas e outras commodities).
Com Milei no poder e diante das suas primeiras declarações após a vitória, havia um temor de ruptura e de uma Argentina encastelada em sua nova visão político-ideológica. A escolha do Gabinete do novo presidente, porém, acabou por tranquilizar os agentes econômicos e parceiros regionais.
Esta é, hoje, a visão compartilhada por diretores do Ciesp-Campinas.
Para o primeiro vice-diretor do Ciesp-Campinas, Valmir Caldana, a ascensão do libertário Javier Milei não deve modificar radicalmente a dinâmica da balança comercial regional. A avaliação é de que uma eventual ruptura seria prejudicial sobretudo para a Argentina, em razão da grave crise econômica. A inflação, por exemplo, está na casa dos três dígitos por ano. A pobreza acelerou rapidamente. Não há reservas, muito menos confiança.
Em entrevista coletiva na semana passada, da qual participou o Hora Campinas, Caldana pontuou que espera um relacionamento saudável e sem grandes ruídos. Ele mencionou um fato que sustenta esta visão dentro da entidade: a escolha dos ministros da Economia e das Relações Exteriores.
Na Economia, por exemplo, foi escolhido Luis Caputo, que já foi ministro de Mauricio Macri, um político não-peronista de centro direita. Caputo já presidiu o Banco Central (BC) e tem boa reputação no mercado financeiro. É financista, com experiência no setor privado. É também ex-professor universitário.
Na política internacional está a professora Diana Mondino. Numa Pasta estratégica, seus primeiros movimentos na Relações Exteriores foi de antirradicalismo, sem extremismo. Esteve, por exemplo, em novembro no Brasil e se encontrou com o chanceler brasileiro Mauro Vieira. Aqui, fez o convite formal para o Brasil ir à posse. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não foi, mas Vieira representou o País.
Corrobora ainda uma visão otimista do Ciesp-Campinas o fato de Milei representar uma política sem intervencionismo estatal, sem o gigantismo e o elefantismo da máquina pública, sem visão perdulária.
Essas são, inclusive, as principais reclamações de parte do empresariado regional para os sinais que Lula emite sobre um Estado que gasta mais, em detrimento do ajuste fiscal.
Neste sentido, o diretor do Ciesp-Campinas, José Henrique Toledo Corrêa, tem sua visão na ponta da língua. “Queremos que as empresas façam o que realmente sabem fazer muito bem, que é fabricar, gerar mais empregos e melhorar o nível de arrecadação de impostos, mas para isso precisamos ter condições positivas. Que os governos tenham a sensibilidade de interferir menos na atividade produtiva”, argumentou.
Fonte: Hora Campinas/ Foto: Fotos públicas