Brasil deve produzir 70 milhões de m³ de biometano por dia até 2030 , o que pode ajudar a reduzir as emissões de poluentes no transporte rodoviário de longa distância
O biometano pode ser um grande aliado no processo de descarbonização da matriz energética do Brasil. Além disso, é uma das opções para reduzir as emissões de poluentes no transporte de carga e também de passageiros. A informação é da Associação Brasileira do Biogás (Abiogás). Segundo a entidade, o País produz 130 milhões de m³ de gás natural fóssil, bem como 260 mil m³ de biometano por dia. Porém, o potencial de ampliação da produção do combustível de origem orgânica é enorme.
Segundo a Abiogás, a meta é produzir 30 milhões de m³ de biogás diariamente até o fim de 2023. E chegar a 70 milhões de m³ em 2030. Se os números forem alcançados, será um grande avanço no processo de redução de emissões. Afinal, no caso de caminhões, o biogás é até 36% menos poluente. Isso porque o combustível é produzido a partir de resíduos de outros produtos. Conforme a associação, 50% vem do setor sucroalcooleiro e 30% de proteína animal.
Os outros 20% vêm de restos da produção de soja, mandioca e milho. Bem como de resíduos gerados após o tratamento de esgoto e de aterros sanitários. Nesse sentido, há iniciativas previstas por meio do Marco do Saneamento. Assim, governos estaduais e municipais devem garantir investimentos para esse fim envolvendo mais de mil aterros.
Biometano é 100% renovável
De acordo com o CEO da Gás Verde e sócio e diretor-executivo do Grupo Urca Energia, Marcel Jorand, biometano e biogás são produtos diferentes. Ele explica que o biogás é composto por 50% de metano e 50% de CO2. Porém, após passar por um processo industrial no qual ocorre a retirada do CO2, surge o biometano. Ou seja, um combustível renovável e de origem orgânica.
Atualmente, a Gás Verde responde por 50% da produção nacional de biomentano. Segundo Jorand, o investimento em novas plantas de produção depende da garantia de que haverá demanda. “Nesse momento, quem provê a produção é a indústria”, diz. De acordo com dados no setor, há seis fábricas de produção em larga escala de biogás no Brasil. Porém, esse número deve dobrar ainda neste ano.
Conforme o executivo, também há vários pequenos produtores de biogás no País. Porém, eles ainda não estão purificando o produto. “O fato é que a indústria tem metas de redução de emissões de carbono. Então, elas estão comprando grandes volumes. Também vamos avançar na oferta de combustível para frotas de veículos, devido ao grande potencial de consumo”, afirma.
De acordo com a Abiogás, há mais de 40 projetos de construção de usinas de biometano em andamento no Brasil. A expectativa é de que elas entrem em operação nos próximos cinco anos. Isso deve garantir que as metas de produção sejam alcançadas. Ainda de acordo com a associação, o volume de insumos disponível no País é suficiente para atender a alta na produção.
O biometano e o transporte
Segundo o gerente de sustentabilidade da Scania no Brasil, Paulo Genezini, o aumento da produção do combustível é positivo para o setor de transporte de carga. “Há muito potencial da utilização do biogás no transporte de longas distâncias. Afinal, a logística no Brasil é realizada em boa parte por meio de rodovias. Onde não há como rodar (longas distâncias) com caminhão elétrico”, diz.
Vale lembrar que a Scania já vendeu mais de 600 caminhões a gás no Brasil. Recentemente, a Iveco entrou no segmento. E a Volvo anunciou que vai testar caminhões a gás GNL (líquido) na América Latina. em breve. Segundo a marca, isso inclui o Brasil.
Segundo especialistas, um caminhão que roda 14,5 mil km por mês com biometano, evita a emissão de 231 toneladas de CO2 por ano na comparação com um modelo equivalente a diesel. Em outras palavras, isso corresponde a 133 árvores plantadas. Além disso, o biocombustível reduz em 95% as emissões do chamados gases do efeito estufa.
Corredores verdes
Conforme Jorand, há projetos para criar os chamados corredores verdes no País. Ou seja, locais com produção e infraestrutura de reabastecimento de gás. Segundo o executivo, essa solução faz muito sentido no Centro-Oeste, por exemplo. Afinal, a região concentra boa parte da frota de caminhões que faz o transporte da produção agropecuária do País. Portanto, também há grande concentração de resíduos que podem ser utilizados na produção do biocombustível.
Por ora, o Rio de Janeiro, onde fica a Gás Verde, é o Estado que concentra a maior frota de veículos movidos a gás do País. Atualmente, são 12 mil abastecimentos por dia, sendo a maioria automóveis. Para as demais regiões, a Gás Verde transporta o biocombustível em caminhões.
Jomed tem 20 veículos a gás na frota
Outro desafio é oferecer o gás no estado líquido. Isso porque, em veículos de carga que rodam mais de 200 km por dia, o GNL, ou gás liquefeito, é mais vantajoso. Assim, Jorand afirma que a venda de biometano para abastecer grandes frotas será feita sob medida. Ou seja, conforme as características de operação de cada cliente. Além disso, o projeto inclui avaliar o tipo de carga transportada.
A Jomed Transportes e Logística foi a primeira empresa do Brasil a comprar caminhões a gás da Scania, em 2019. Atualmente, a transportadora tem 20 veículos a gás na frota. Segundo a empresa, metade deles roda com biometano. A adesão ao biocombustível só não é maior por causa da falta de infraestrutura de reabastecimento.
O caminhões a biometano trafegam na rota entre São Paulo e Rio de Janeiro. Após reabastecerem em Barra do Piraí (RJ), os veículos descarregam na capital fluminense. Depois, vão para o Espírito Santo e voltam para São Paulo. Porém, é preciso usar GNV, uma vez que não há postos com biometano nesse trajeto. Outra parte da frota faz a rota entre São Paulo e Curitiba, também utilizando GNV.
Gás é mais barato que diesel
De acordo com o dono da Jomed, Eduardo Garrido, as vantagens do gás vão além da redução das emissões de poluentes. “O gás, independente da sua origem, é 15% mais barato que o diesel”, diz. Porém, ele afirma que o negócio só é vantajoso para os grandes embarcadores, que têm metas de redução de emissões de carbono.
Afinal, o caminhão a gás é cerca de 40% mais caro que o equivalente com motor a diesel. Porém, a remuneração do frete também é maior. “Temos de apresentar resultados aos clientes. E eles me cobram mensalmente quanto deixamos de reduzir de CO2. Como também usamos gás de origem fóssil, a redução chega a 30%.” De acordo com ele, se os caminhões fossem abastecidos apenas com biometano, a redução poderia superar os 90%.”
Fonte: Estradão – Estadão