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O fundo do poço parece que chegou

G noticia 24488 - Sindicamp

A indústria automotiva brasileira aparentemente alcançou, enfim, o fundo do poço. Embora o termo soe negativo, chegar a este patamar é encarado até com certo alívio por Antonio Megale, presidente da associação dos fabricantes de veículos, a Anfavea; em visão compartilhada com a consultora Letícia Costa, sócia-diretora da Prada Assessoria, e Vitor Klizas, presidente da Jato Dynamcs. Eles abriram as palestras do Workshop Planejamento Automotivo 2017, realizado por Automotive Business na segunda-feira, 22, em São Paulo. Para os três a produção e as vendas do setor deverão crescer em 2017, com relação a 2016.

“No fim do ano os primeiros sinais de aceleração começarão a aparecer. Não será um crescimento extraordinário, mas o mercado voltará, sim, a crescer”, disse Megale, o primeiro a se apresentar. O presidente da Anfavea reconhece, no entanto, que as vendas de agosto estão um pouco abaixo do volume de julho, por diversos motivos: “Até as Olimpíadas influenciaram”, ponderou. “Mas vamos esperar o fim do mês para chegar a uma conclusão. O mercado estabilizado é o primeiro sinal de recuperação”.

Letícia Costa concorda que a tendência é de estabilização e retomada, mas lembra que o contexto atual da economia ainda é de crise profunda. Segundo ela, os principais indicadores econômicos estão todos ruins e a própria Lava-Jato, embora seja eticamente necessária, influencia negativamente a economia, pois as empresas investigadas compõem boa parte da força de infraestrutura do País.

“O cenário para 2017 apresenta incertezas, mas aponta para uma recuperação. O que é uma boa notícia. Chega de más notícias”, sentenciou. Mas para a consultora a recuperação não será tão rápida. “Nos acumulados dos últimos dois anos o PIB brasileiro recuou 7,2%. Segundo as previsões do Banco Central, para recuperar essa perda serão precisos quatro anos. No caso do PIB industrial, a retomada deverá ser ainda mais lenta”, destacou.

Klizas, da Jato, apresentou projeções de vendas de veículos para o mercado brasileiro até 2020. Será justamente quando, de acordo com as contas da consultoria, o volume retornará aos patamares do ano passado – que já foi inferior a 2014, 2013 e 2012, última vez que a indústria apresentou crescimento. No caso da produção, o empate com 2015 será em 2018.

EXPORTAÇÕES AJUDAM RITMO DAS FÁBRICAS

A janela de oportunidades para a indústria automotiva nacional é o mercado externo. Megale lembrou do esforço da Anfavea junto ao governo para fechar novos acordos comerciais bilaterais e renovar os antigos, como no caso da Argentina. “Precisamos de previsibilidade também para as exportações, assim como no mercado interno”, ressaltou.

O câmbio na faixa de R$ 3,20-R$ 3,30 permite que a indústria exporte com bom nível de retorno, segundo o executivo. Mas Letícia Costa ponderou que o câmbio não estará necessariamente mais favorável em 2017 – o que não significa tirar o pé nas exportações: ela aconselha que a indústria encare o mercado externo como uma oportunidade perene de longo prazo e não um escape pontual baseado na atratividade cambial.

MUDANÇAS NA COMPOSIÇÃO DO MERCADO

Tanto Klizas quanto Letícia destacaram as alterações no market share das montadoras no mercado brasileiro. A consultora mostrou que Fiat, General Motors e Volkswagen, as três líderes no segmento de automóveis e comerciais leves, detinham 55,6% das vendas em 2014, fatia que caiu para 45,1% nesse primeiro semestre.

O presidente da Jato Dynamics foi mais além: os consumidores brasileiros investiram mais dinheiro nos modelos das newcomers do que nos das quatro tradicionais – às três líderes, Kliza acrescentou a Ford em suas contas, marca que este ano já desceu à quinta posição do ranking de vendas.

Com base em um levantamento que multiplicou o volume de unidades vendidas pelo preço médio de cada modelo, a consultoria chegou à conclusão de que 60% do dinheiro aplicado em carros zero-quilômetro foram outras montadoras. Fiat, Ford, GM e VW ficaram com 40% do investimento dos consumidores – em 2015 essa relação estava em 53%-47%.

O efeito é sentido também no varejo, uma vez que as quatro tradicionais, comparadas com as demais marcas, oferecem aos consumidores descontos maiores com relação ao preço público oficial de seus modelos, prática replicada por sua rede de concessionários.

PRODUTIVIDADE É PREOCUPAÇÃO

A sócia-diretora da Prada Assessoria ressaltou a importância de manter o foco no aumento de produtividade. “As empresas de fato se preocupam com o tema, mas o tratamento dado a ele é inapropriado”, disse Letícia.

Segundo a consultora o tema é encarado apenas como redução de custos e otimização de recursos operacionais – e não é só isso. “Essa preocupação deveria estar vinculada a inovações tecnológicas em processos produtivos e qualificação da mão-de-obra. São investimentos que dão retorno.”

Nesse sentido, Megale voltou a falar sobre a importância da continuidade da política industrial desenhada para o setor para além de 2017, quando termina o Inovar-Auto. “Já começamos a negociar com o governo uma nova política que pelo nosso desejo deve se estender pelos próximos dez anos, para dar previsibilidade ao setor, um horizonte”, declarou. Segundo ele, uma nova versão do Inovar-Auto deve necessariamente focar nos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, eficiência energética e recuperação da cadeia de fornecedores, que foi severamente abalada pela crise econômica.

Fonte: Automotive Business.

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