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Início de 2021 preocupa, apesar dos bons indicadores da economia

O círculo vicioso, e eprevisto, que a segunda onda da covid-19 traz para o comércio e o varejo no Brasil gera muitas incertezas no setor, que devem se estender pelos próximos meses. O início da vacinação em alguns países animou o mercado financeiro e o Ibovespa, principal indicador da Bolsa brasileira, recuperou parte das perdas do ano e voltou ao patamar de janeiro. Mas como os novos dados de contaminação levam a novas restrições, os impactos sobre as vendas serão inevitáveis.

“A pandemia tem essa característica de gerar incertezas na economia. Por isso, é difícil traçar cenários porque tudo vai depender de como será a evolução da doença daqui para frente”, diz Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). De acordo com ele, no primeiro trimestre do ano que vem, ainda vamos sentir o reflexo deste ano, mas não será tão dramático como foram os meses de maio e junho. “Em 2021, ainda vamos sentir o impacto da pandemia, mas a projeção é de que o resultado do ano que vem seja positivo”, diz Solimeo.

Apesar de o País acumular mais de 14 milhões de desempregados, aos poucos a economia começa a dar sinais de recuperação. O Produto Interno Bruto (PIB) fechou o terceiro trimestre com crescimento de 7,7% na comparação com os três meses imediatamente anteriores. O resultado, no entanto, mostra que a economia brasileira se encontra no mesmo patamar de 2017, com uma perda acumulada de 5% de janeiro a setembro, em relação ao mesmo período de 2019.

O professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Marcos Antonio de Andrade considera que o resultado do PIB no terceiro trimestre reforça a percepção de recuperação da economia porque apresenta indicadores importantes como retomada da demanda doméstica, com destaque para os investimentos em setores como indústria e comércio. “O setor de serviços também apresentou indicadores positivos, mas ainda deve sofrer muita volatilidade até o final do primeiro trimestre de 2021”, diz. No entanto, a inflação é um indicador que preocupa, porque os reflexos dos aumentos sazonais causam significativo impacto no cenário de curto prazo, principalmente devido à expectativa de aumento no sistema de bandeiras tarifárias, como energia elétrica, entre outros.

A projeção da Confederação Nacional da Indústria (CNI) é que o PIB tenha expansão de 4% no ano que vem. O estudo mostra que parte significativa do crescimento econômico será explicada pela base de comparação com 2020. A estimativa é que, neste ano, o PIB caia 4,3% na comparação com 2019.

O presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, avalia que as incertezas com relação à economia continuam elevadas e só diminuirão com a imunização da maior parte da população. “O desafio é a transição da retomada para o crescimento sustentado já em 2021. Para isso, o País, mais do que nunca, precisa eliminar o Custo Brasil. É preciso prover um ambiente favorável aos negócios, que ofereça segurança jurídica, melhore as expectativas e estimule o investimento, o crescimento econômico e o desenvolvimento social”, afirma o presidente da CNI.

É importante lembrar que o auxílio emergencial disponibilizado desde abril foi peça fundamental para alavancar a economia. O benefício, que está na fase final de pagamentos, totalizou mais de R$ 275 bilhões em investimentos desde o início do programa, que atinge 67,9 milhões de cidadãos, conforme dados do Ministério da Cidadania. “O auxílio foi fundamental para dar essa arrancada na economia, mas agora está acabando e seria importante que o governo liberasse outro benefício, talvez um Bolsa Família remodelado, para garantir que o consumo siga em alta”, finaliza Solimeo.

Bares e restaurantes sentem impacto da segunda onda

O isolamento social imposto pela pandemia da covid-19 teve impacto direto nos bares e restaurantes. Com o fechamento em diversas cidades, várias empresas deixaram de operar. Só na capital paulista, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo (Abrasel-SP) calcula que 30% dos estabelecimentos encerraram as atividades. “Na cidade de São Paulo, 12 mil estabelecimentos fecharam as portas em definitivo, 24 mil pequenos empresários perderam seus negócios e cerca de 72 mil trabalhadores, seus empregos, sem contar os que eram criados indiretamente”, contabiliza o presidente do conselho estadual da Abrasel-SP, Percival Maricato.

O representante do setor comenta que as empresas começavam a equilibrar as finanças com a reabertura dos negócios, ainda que com capacidade reduzida e horário de funcionamento limitado. No entanto, a segunda onda do novo coronavírus impôs novas restrições ao setor no Estado de São Paulo. “Estávamos apostando nas vendas do fim de ano para acertar as contas. Mesmo ainda que o movimento estivesse fraco, havia uma esperança. Só que agora fechados, não temos no que nos apegar”, diz Maricato.

O presidente da Abrasel comenta que a situação é ainda mais delicada para os restaurantes localizados nas áreas onde se concentravam os escritórios, como a região da Paulista e Faria Lima. Muitos desses locais só abriam na hora do almoço para atender os trabalhadores da região. Com o trabalho remoto, esses estabelecimentos perderam a clientela. Muitos restaurantes localizados em áreas comerciais se mantinham apenas com o almoço e em dias úteis, mas, com o home office, muitos deles tiveram de recorrer ao delivery, que nem sempre é suficiente para manter as despesas. “Muitos não tiveram escolha senão fechar”, avalia o executivo.

Por outro lado, aos poucos, os consumidores começam a ganhar confiança para voltar às compras em lojas de rua ou shopping. Mesmo com os preços de alguns produtos e serviços até 30% mais altos neste Natal, de acordo com o Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo (Ibevar), bairros comerciais como o Brás e o Bom Retiro viram o movimento bem perto do normal nas últimas semanas do ano, assim como os shoppings. A pesquisa, no entanto, mostra também que a intenção de comprar dos brasileiros diminuiu. “A Black Friday transfere as vendas, não significa que há um aumento nas vendas”, diz Claudio Felisoni de Angelo, presidente do Ibevar.

 

Fonte: Estadão

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