
Só depois de passarem por cursos de adaptação, com matérias sobre Leis Trabalhistas, Direção Defensiva, Noções de Economia, Relações com o Cliente e Prática de Estrada, é que os motoristas de caminhão vindos da Colômbia vão para estrada. A informação é do Setcepar (Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas no Estado do Paraná), entidade que está recrutando motoristas fora do Brasil para suprir a falta de carreteiros no País, embora seja grande a lista de motoristasprocurando colocação profissional em empresas de transportes.
A justificativa para a importação de motoristas da Colômbia é suprir a falta de profissionais no Brasil, cujos déficit citado por empresas e entidades do setor superam a casa dos 100 mil profissionais. De acordo com os números apurados pela reportagem, em meados de setembro haviam 40 profissionais contratados pelas empresas BBM Transportes e Diamante Transportes, ambas de Curitiba. Na ocasião, mais 12 faziam o curso preparatório e outros 50, com currículos já aprovados, estavam previstos para chegar ao País dentro dos próximos três meses, além de outros 250 currículos – enviados da Colômbia – em análise.
A CTC & Logística (Associação Nacional do Transporte de Carga e Logística) avalia que atualmente o déficit de motoristas de caminhão chega a ser de 13% da frota das transportadoras, o que representa a falta de 100 mil profissionais. Gilberto Cantú, presidente do Setcepar, explica que já estudava atrair profissionais de países da América do Sul, quando surgiu a oportunidade de trazê-los da Colômbia.
“Tudo começou quando um parceiro instrutor de motoristas na Colômbia veio a Curitiba para dar um curso no Instituto Setcepar de Educação no Transporte, o ISET. Ao retornar ao seu país, ele detectou que muitos motoristas tinham interesse nas oportunidades oferecidas no Brasil e a partir daí foi só seguir os tramites legais, os mesmos que possibilitam aos haitianos trabalharem no Brasil”, frisou Cantu. Ele acrescenta que a adaptação dos colombianos é boa, notabilizando-se como pessoas qualificadas e educadas.
Após a escolha do profissional que virá ao Brasil, o processo começa na própria Colômbia, na embaixada brasileira. Ao chegarem ao Brasil é necessário legalizar a documentação na Polícia Federal e depois, com os documentos em dia, os motoristas seguem para o curso preparatório. Na opinião de Cantú, as causas da falta de motoristas no Brasil vão desde o desinteresse dos jovens pela profissão, a falta de investimento e de políticas do governo para setor de transportes, entre outras razões.
“Antigamente, o filho ia para a estrada por influência do pai, mas estes laços familiares não estão mais se renovando”, acrescenta. “Os jovens não têm interesse pela profissão, a qual por muitos anos atraiu pessoas que tinham espírito de aventura, que desejavam conhecer vários lugares e não queriam ficar prezas em escritórios”, diz, acrescentando que os jovens querem profissões relacionadas à computação e atividades que permitam a eles estarem em casa todos os finais de semana.
Cantú argumenta que nos últimos anos os motoristas de caminhão desestimularam os filhos a seguirem a suas carreiras, porque eles desejam que seus filhos estudem, façam universidade e isso contribuiu para que a falta de profissionais se acentuasse ainda mais, na medida em que os antigos estão se aposentando. Ele cita também, como outro fator, o aumento da frota de caminhões. “Foram vendidos muitos caminhões nos últimos anos, muitas empresas aumentaram suas frotas e o número de novos motoristas não acompanhou este crescimento”, destacou.
Na visão do presidente do Setcepar, a importação de motoristas da Colômbia e de outros países a América do Sul é uma solução antes que o problema de agrave mais ainda, porém, destaca que é preciso investir na formação de novos profissionais no Brasil, mostrando que a profissão é rentável e hoje não é mais como antigamente, que o carreteiro ficava meses longe de casa. Gilberto Cantú, que também é diretor da Diamante Transportes, diz que a utilização de mão de obra colombiana é uma solução paliativa, porque a solução a médio e a longo prazos só virá com os cursos que a CNT está fazendo para atrair jovens e também para motivar profissionais a mudar de categoria na carteira. “Estes cursos têm custo zero para os profissionais”, acentua.
Cantú diz que as próprias empresas estão se preocupando em formar seus quadros de profissionais e volta a citar o programa da CNT (Confederação Nacional dos Transportes) para financiar a formação de 50 mil motoristas com idade entre 20 a 25 anos. “Eles terão todos os custos de formação e habilitação pagos pela CNT, desde que fiquem na profissão por um certo período”, informa.
Importação sem resistência
A importação de motoristas da Colômbia não teve resistência por parte dos profissionais e nem de empresas filiadas ao Setcepar, diz Gilberto Cantú.
“Os colombianos não vêem ao Brasil para tomar o lugar de ninguém. Eles vão pegar o volante dos caminhões que estavam parados por falta de condutores”, justifica, lembrando que a importação de mão de obra colombiana ocorre em função da falta mais de 100 mil motoristas no Brasil. Eles terão salários iguais aos dos brasileiros, mas o custo para as empresas é maior, porque têm de arcar com os custos de recrutamento, os quais incluem passagens e treinamento no ISET, além de taxas da Polícia Federal e custos com a documentação. Ao serem contratados, os colombianos têm condições iguais as dos brasileiros, com salários e benefícios iguais.
Na opinião de Leocir Gubert, presidente da Coopertrac (Cooperativa de Transportes Rodoviários Autônomos de Cascavel, no Oeste do Paraná), a importação de motoristas da Colômbia não afetará os profissionais brasileiros. De acordo com Gubert, no Paraná o mercado de trabalho também é regido pela oferta e procura e diz que há uma falta muito grande de motoristas e quem tem caminhões parados precisa fazer alguma coisa para resolver a situação.
“É difícil a situação de um empresário que está com 20 ou 30 caminhões parados por falta da motoristas. Ele precisa colocá-los na estrada, porque as contas chegam. Além disso, a vinda de colombianos não afetará em nada, porque falta mais de 100 mil profissionais hoje no Brasil”, comenta. Leocir Gubert frisa também que os motoristas colombianos irão trabalhar em empresas e isso em nada afetará o profissional que tem um caminhão, como é o caso dos associados da cooperativa que preside.
Para o presidente da Coopertrac, a maior preocupação deve ser das autoridades, que precisam acompanhar todo este processo. Em sua opinião, é necessário ficarem atentas com aqueles que virão ao Brasil e depois de algum tempo deixem o emprego – por qualquer que seja o motivo – e fiquem no País sem outra ocupação. “Este é um risco que poderá trazer problemas sociais no futuro”, conclui Leocir.