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Empresas de SP criam corredor de câmeras para conter roubo de carga

Em meio a uma epidemia de roubos de carga que se mantém nos últimos anos no Estado de São Paulo, empresas de transporte têm investido até 15% de seu faturamento em ações de segurança. E agora vão gastar ainda mais.

Até fevereiro do próximo ano, será implementado um “corredor inteligente” de câmeras do litoral até Campos do Jordão (a 181 km de SP).

Esse conjunto de 96 câmeras será capaz de alertar a polícia ao detectar situações suspeitas, como caminhões parados no acostamento da rodovia sem problema aparente.

A ideia é que a polícia também seja acionada caso a carga atrase para cruzar algumas dessas câmeras na estrada.

Os valores de compra e instalação dos aparelhos não foram informados, mas serão bancados pelas empresas.

O gasto do governo será somente com a operação. A Polícia Militar fez o projeto de implantação dos aparelhos e será responsável pelo monitoramento à distância.

A parceria das empresas com a gestão Geraldo Alckmin (PSDB) se mostra urgente. Obtido pela Folha, um levantamento feito pelas quatro maiores companhias de encomendas expressas do país aponta alta de 51% nesse tipo de crime em SP no primeiro semestre de 2015 (585 casos) em relação ao mesmo período do ano passado (387).

O prejuízo, porém, cresceu 70%, devido ao maior valor unitário das mercadorias. Foram levados R$ 7,1 milhões em produtos nos seis primeiros meses deste ano, contra R$ 4,2 milhões em 2014.

Os roubos se concentram nas regiões da Grande SP, Jundiaí e Campinas, onde há muitas empresas de eletroeletrônicos, principal alvo das quadrilhas.

Medidas de segurança foram implantadas, mas os roubos de carga seguem praticamente estáveis nos dez primeiros meses deste ano. Foram 6.947 casos de janeiro a outubro, contra 7.041 no mesmo período do ano passado.

Isso ocorre porque as quadrilhas encontram meios de driblar as formas de proteção.

Por exemplo: empresas implantaram um chip em meio a mercadorias, a chamada “isca eletrônica”, para ampliar a escolta da carga, o que logo foi descoberto pelas quadrilhas. Nem uma segunda “isca” tem colaborado.

PROJETO VERÃO

O novo sistema bancado pelas empresas será usado pela PM também para caçar veículos roubados em geral e será interligado à malha de câmeras comuns das 41 cidades localizadas ao longo da rota (veja mapa nesta página). Apenas Santos e Praia Grande, ambas no litoral sul do Estado, somam quase 3.000 delas.

O governo vai anunciar na próxima semana a implantação dos radares inteligentes nas rodovias litorâneas, em uma ação com o nome de Detecta Verão.

O Detecta foi destaque da campanha eleitoral de Alckmin, em 2014, mas não foi implantado integralmente. Ele reúne as imagens fornecidas pelas prefeituras e empresas para aumentar a área de fiscalização remota da polícia.

 

As empresas já estudam ampliar o total de câmeras inteligentes, uma vez que identificaram a redução de crimes nas regiões de Campinas e Jundiaí, onde começou a funcionar sistema semelhante.

O presidente do Setcesp (sindicato das empresas de transporte de carga), Manoel Sousa Lima Junior, diz confiar na eficácia do novo sistema. “Os índices começaram a cair de forma tímida, mas a gente fica aliviado. Se você diminuir 10% do seu custo, você deixa de passar para o cliente”, diz.

MEDO CONSTANTE

Não é apenas o roubo de cargas que tira o sono de quem usa as principais rodovias paulistas. Após terem relógios e celulares roubados, mecânicos e médicos das equipes de resgate da rodovia Fernão Dias passaram a atender a ocorrências só de uniforme.

Antes de sair para o trabalho, todos os dias, eles deixam objetos de valor na base da concessionária da rodovia que liga SP a MG.

Funcionários, que pediram para não ter seus nomes divulgados, disseram que os trechos mais perigosos estão em Guarulhos e de Mairiporã, na Grande SP.

Eles relatam que, no ano passado, até uma Saveiro usada para inspeção e atendimento foi roubada.

“Em Mairiporã, caminhões muito pesados chegam a 20 km/h no fim de subidas. Assim, o bandido consegue subir, se pendurar na porta do caminhão, roubar celular e relógio e fugir”, diz o caminhoneiro Reinaldo de Paula, 43.

A Fernão Dias teve neste ano, segundo as empresas, 67% dos roubos de encomendas expressas, seguida da Dutra, com 17%.

A Polícia Rodoviária Federal, responsável pelo patrulhamento da Fernão Dias, diz ter criado grupos especializados de policiamento para atender o trecho paulista da rodovia.

Já a Secretaria da Segurança informou que o policiamento ostensivo já se reflete na queda dos roubos.
Os produtos mais roubados nas rodovias são os eletroeletrônicos, seguidos pelos alimentícios, farmacêuticos e têxteis.

Fonte: Folha de São Paulo

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