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Em meio à crise, montadoras mantêm produção na região de Campinas, SP.

 

Ao contrário das montadores do ABC Paulista que anteciparam férias coletivas, prorrogaram a suspensão de contratos de trabalho (layoff) e anteciparam planos de demissão voluntária (PDV), as principais empresas da região de Campinas (SP) mantêm o ritmo e afastam risco de cortes em massa. Entretanto, de acordo com o sindicato regional dos metalúrgicos, a crise nas companhias da Grande São Paulo compromete áreas de eletrônicos e autopeças.

O presidente da entidade, Sidalino Orsi Júnior, disse que 104 postos de trabalho foram fechados pelas montadoras da região de Campinas no ano passado, o menor número entre os setores onde atua a categoria. Para ele, o investimento em tecnologia pode ser associado à capacidade de manutenção ou abertura de oportunidades de trabalho nas empresas. “Temos quase 7 mil metalúrgicos nas montadoras atualmente, incluindo Campinas, Sumaré e Hortolândia. O índice de demissões neste ano é baixo, há um cenário relativamente positivo diante da situação do ABC, e o saldo desde janeiro é de 78 vagas”, falou o sindicalista.

Na avaliação do economista Roberto Brito de Carvalho, da PUC-Campinas, a situação menos desconfortável das montadoras de veículos no interior do estado está associada ao público-alvo trabalhado por elas. “O foco destas montadoras são os consumidores com maior poder aquisitivo. Eles sofrem menos durante as crises, portanto, as aquisições dos produtos têm oscilação inferior”, explicou o professor da Faculdade de Ciências Econômicas.

Já para Orsi Júnior, a questão econômica está nivelada, mas o mercado é “um pouco mais favorável” para as empresas asiáticas, como a Toyota (fábrica em Indaiatuba), Honda (montadora em Sumaré) e Hyundai (unidade em Piracicaba), porque elas apresentam uma tecnologia mais avançada. “Além disso, também houve mudança no comportamento do consumidor. Há alguns anos havia menos montadoras no país, estas são mais recentes e há um impacto menor”, ponderou o sindicalista.

O presidente da entidade que representa os metalúrgicos de Piracicaba, José Florêncio da Silva, afirmou que não houve demissões em massa na Hyundai e acredita que haverá crescimento do parque automotivo nos próximos meses. “Não houve reflexo da crise por enquanto. A empresa continua com aproximadamente 5 mil metalúrgicos”, explicou. Em fevereiro, a fabricante chinesa Chery iniciou a produção de unidades em Jacareí (SP).

Crise e contratações

De acordo com a entidade que representa os metalúrgicos, 5,6 mil demissões foram contabilizadas pela entidade na região de Campinas no ano passado, entre elas, ao menos 80% atreladas às companhias dos setores de eletrônicos e autopeças.

“A Eaton, empresa tradicional, já demitiu em torno de 300 trabalhadores desde janeiro do ano passado. Isso certamente já reflete crise das montadoras que negociam com ela. Uma outra companhia de eletrônicos, em Campinas, deu férias coletivas para 300 dos 1,5 mil trabalhadores”, falou Orsi Júnior.

De acordo com o sindicalista, as montadoras da região mantêm a produção de veículos. Segundo ele, a unidade da Honda em Sumaré, onde são produzidos os modelos Civic, City, Fit e HR-V, iniciou nesta semana uma jornada com duas horas extras diárias. Além disso, no caso da Toyota, mencionou discussões sobre a criação de um terceiro turno em Indaiatuba. “A Honda está construindo uma fábrica em Itirapina [SP] e parte da produção deve ser levada para lá. Não trabalhamos com risco de demissões, vamos acompanhar sobre investimentos.”

Ao falar sobre a estabilidade das empresas a médio e longo prazo, o sindicalista frisou que a política da entidade será mantida nos próximos meses. “A negociação ocorre em cada fábrica e somos contrários ao layoff, banco de horas e reduções dos direitos trabalhistas.”

Segundo o economista da PUC-Campinas, as multinacionais asiáticas se beneficiam por ter estrutura mais enxuta que outras montadoras tradicionais no Brasil e têm apresentado expansão do market share (participação de mercado). “Estas empresas têm automatização maior, ou seja, maior intensidade de capital e menor de trabalho. A mudança no padrão de consumo nos últimos anos também favoreceu elas, porque antes eram inacessíveis”, explicou ao ponderar que o setor de autopeças reflete a crise das companhias que visam o mercado com menor renda. “A diminuição da clientela reduz a produção e afeta empregos.”

As empresas

A Honda Automóveis do Brasil informou, em nota, que tem sentido dificuldades do mercado, contudo, encerrou 2014 com estabilidade por causa do lançamento de novos produtos e ações comerciais. Além disso, frisou que espera manter o ritmo de operações em 2015.

“Não há qualquer previsão de PDV ou layoff e o andamento da produção segue dentro da normalidade”, diz texto. A empresa citou que segue operando em dois turnos e que o regime de horas extras é “adotado pontualmente para atender a demanda do mercado”. A planta de Itirapina deve ser aberta no segundo semestre, com dois mil funcionários.

A assessoria da Mercedes-Benz, que concentra operações de pós-venda e atendimento aos clientes em Campinas, disse que não houve impacto nas atividades realizadas na cidade. No dia 17, a empresa abriu um PDV para a fábrica de São Bernardo do Campo, onde são produzidos caminhões e ônibus, além de motores, cambios e eixos. Segundo a Mercedes, a medida é necessária para adequar a produção a baixa venda.

“A Mercedes-Benz emprega cerca de 700 profissionais na unidade de Campinas. Não há previsão de demissões, lay-offs e PDV.”

Em nota, a Hyundai Motor Brasil frisou que planeja repetir neste ano o volume de vendas alcançado em 2014, incluindo a produção de até 180 mil carros para o mercado nacional. Na planta de Piracicaba, a multinacional sul-coreana produz modelos da família HB20.

“O ritmo de trabalho permanece em três turnos, de segunda à sexta-feira, sem horas extras. A Hyundai segue monitorando a economia nacional e o desempenho do mercado doméstico da automóveis para responder da melhor forma a eventuais oscilações”, informa o texto.

A Toyota informou que a crise não atinge a empresa em nenhuma das plantas. Em nota, a assessoria da empresa alegou que o número de veículos da marca comercializados subiu 11% no ano passado e chegou a 195,4 mil, enquanto que o mercado automobilísticos teve retração de 7%. “Cerca de 32% (63 mil unidades) correspondem ao Corolla, que é produzido pela Toyota em Indaiatuba, sem contar que esta quantia foi 17% superior ao número de  negociados em 2013”, diz texto. A empresa não comentou sobre novos turnos na planta.

Em nota, a Eaton confirmou que, após adoção de medidas como férias coletivas, o ajuste do quadro de funcionários foi necessário para adequar a estrutura aos volumes de vendas.

Mercado veículos

A indústria de veículos do Brasil terminou 2014 com a segunda queda anual consecutiva. De acordo com a federação dos concessionários (Fenabrave), foram emplacados 3.497.811 automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus no ano passado – um recuo de 7,15% em relação a 2013, que já havia encerrado um período de dez anos de altas.

Fonte: G1.

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