O Brasil tem no mercado de caminhões um bom termômetro da economia. As vendas das montadoras no primeiro trimestre apontam para redução das vendas superior a 36%, na comparação com o mesmo período de 2014. O consenso entre os representantes do setor é que a reversão do quadro de pátios lotados e capacidade ociosa carece mais uma vez de apoio do setor público por meio de um programa nacional de renovação da frota, com eficiência na concessão de crédito, principalmente para os autônomos, que respondem por mais de 90% da frota com mais de 30 anos.
Líder em vendas de caminhões acima de cinco toneladas há 12 anos, a MAN, divisão de caminhões da Volkswagen planejava fechar o ano passado com crescimento de até 7% em comparação a 2013, mas em vez disso, teve queda de 11% na produção e nas vendas, num total de 36.155 veículos, ante os 40.834 de 2013. “A queda a esses níveis nos remete ao período anterior à crise internacional. Um grande retrocesso, se levarmos em conta todo o investimento feito na ampliação da capacidade produtiva, com a instalação de novas empresas e contratação de funcionários, para acompanhar o aquecimento da economia”, diz o presidente da MAN, Roberto Cortes.
Cortes acredita que o mau resultado reflete a redução das cargas transportadas e também o receio dos autônomos e empresas em investir na renovação da frota, especialmente em função das mudanças para a concessão de financiamento pelo BNDES. Pelas novas regras do Programa de Sustentação do Investimento, o banco deixará de financiar 100% do bem a ser adquirido, passando a bancar apenas 50% para grandes empresas e 70% para pequenas. As taxas de juros também subiram, de 6% para 9,5% ao ano para as pequenas empresas, e 10% para as grandes.
A linha Pró-caminhoneiro foi de 6% para 9% ao ano. “Para compensar, os clientes da MAN conseguem financiar 100% do valor do veículo com 0% de entrada, graças a uma parceria como Banco Volkswagen. O prazo de financiamento é de até 60 meses e a taxa de 0,93% ao mês.”
Já o diretor de venda e marketing de caminhões para o mercado interno da Mercedes Benz, Gilson Mansur, diz que entre dezembro e fevereiro já notou alguns sinais de reação, porém restrito a alguns segmentos. “Estamos observando uma boa procura por caminhões de carga frigorificada e também veículos adaptados para o transporte de madeira para fins de fabricação de celulose. A parte de gado está muito concentrada no Centro Oeste, e as exportações exigem que esses produtos cheguem até os portos. A expectativa é que esse movimento melhore ainda mais no segundo semestre.”
Marco Borba, vice-presidente da Iveco para a América Latina, lamenta os resultados do setor. “A deterioração em vários indicadores macroeconômicos, as oscilações que tivemos no Finame no início do ano, a Copa do Mundo e as eleições de outubro impactaram o mercado de forma negativa. Apesar de já termos trabalhado desde o início do ano passado com previsão de queda do mercado, os volumes de 2014 ficaram abaixo de nossas expectativas”, justifica.
Apesar das vendas menores, a Iveco, braço de caminhões da Fiat, manteve os investimentos, buscando a consolidação da marca. Isso incluiu o lançamento de uma versão da família Tector, que marca o início da geração Economy, para competir também no mercado de 15 toneladas.
E apesar desse empenho, as perspectivas para 2015 ainda são de queda. “A maneira como o mercado vai se adaptar às novas regras ainda é uma incógnita e será fator determinante para o ritmo do ano”, diz o executivo. Ele também aponta a criação de um programa de renovação da frota como a melhor forma de retomar o crescimento na indústria. ” Um programa que conseguisse abordar com eficiência a questão do crédito para os autônomos, que são responsáveis por 90% da frota com mais de 30 anos, frota essa que estimamos ser superior a 400 mil caminhões, segundo dados da Agência Nacional de Transporte Terrestre.”
A Iveco tenta atrair os clientes com uma alternativa de financiamento em parceria com o Banco CNH, uma forma de facilitar a aquisição dos caminhões por meio da diminuição dos valores de entrada. “Isso para minimizar os impactos negativos originados com as novas regras do Finame. Além disso, a Iveco manterá ações que se mostraram eficientes no último ano. Iniciativas como test-drive, demonstrações dos veículos, treinamento e capacitação da rede para melhorar o atendimento e participação em feiras e eventos fazem parte do pacote de estímulos”, diz.
Também está confirmado o investimento de aproximadamente R$ 650 milhões até 2016, com foco em aspectos como localização de componentes, melhorias em processos industriais e de qualidade, treinamentos.
Fonte: Valor Econômico